Campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil hoje é feliz como carteiro
Grotto foi multicampeão no futebol por Grêmio e Botafogo, e hoje é feliz trabalhando como carteiro
Nesta terça-feira, o Grêmio recebe o Red Bull Bragantino, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro, precisando muito de uma vitória para ganhar fôlego na luta contra o rebaixamento.
Se hoje vive momento delicado, o Imortal foi um dos times mais dominantes do futebol nacional durante os anos 90, enfileirando grandes taças nacionais e internacionais, em um elenco que contava com nomes que entraram para a história.
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Um dos integrantes do "superelenco" tricolor que deu início à fase de conquistas do Grêmio foi o ex-lateral e zagueiro Cristiano Grotto, que faturou os títulos do Campeonato Gaúcho de 1993 e da Copa do Brasil de 1994, antes de ir para o Botafogo e ganhar o Brasileirão de 1995.
Nascido em Nova Palma, no interior do Rio Grande do Sul, Grotto teve a opção de seguir uma carreira "normal" ao invés do futebol, mas a paixão pela bola falou mais alto.
"Comecei jogando no futebol amador de Nova Palma, ao mesmo tempo que eu era estagiário do Banco do Brasil. Na época, eles selecionavam estudantes que estavam bem na escola, e eu era um bom aluno. Fiz um concurso interno e fui aprovado, poderia estar lá até hoje. No entanto, tirei uma licença para tentar jogar no Grêmio e não voltei nunca mais para o banco", contou o ex-atleta, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Foi feita uma peneira do Grêmio em uma cidade vizinha e eu fui. Entre centenas de garotos, fui aprovado e me mandaram para Porto Alegre fazer testes por 15 dias, em 1988. Acabei ficando e depois fui para a equipe juvenil", recordou.
"Ano após ano, fui subindo de categorias. Em 1991, eu já estava no elenco profissional, mas não precisava ter contrato para poder jogar. Eu já tinha feito algumas partidas e assinei meu primeiro contrato profissional em 1992, quando jogamos a 2ª divisão do Brasileiro. Tive a chance de ajudar o Grêmio a voltar à elite e, nos anos seguintes, vencemos o Gaúcho e a Copa do Brasil", rememorou.
Grotto teve como colegas de base alguns atletas que estão no panteão de lendas do Imortal, como o goleiro Darnlei e os meias Arílson e Carlos Miguel.
"Eu subi para o profissional a pediro do professor Valdir Espinosa. Na época, fui muito ajudado pelo Renato Gaúcho e pelo Baidek, que eram referências do elenco. Tem gente que acha que o Renato é um mala, mas na verdade é um cara muito de grupo, nada individualista", exaltou o ex-zagueiro e lateral, fazendo referência ao hoje treinador do Flamengo.
"No Grêmio, eu venci Estadual e Copa do Brasil, mas o título mais marcante para mim foi o da Série B, pois pudemos recolocar a equipe na Série A do Brasileiro, que é de onde ela nunca deveria ter saído", salientou.
Apesar de ter subido com Espinosa, Grotto se firmou como "curinga" no elenco gremista sob a batuta do técnico Luiz Felipe Scolari, que cansou de levantar taças com o clube gaúcho entre 1993 e 1996.
"O Felipão gostava muito de mim. Joguei em várias posições com ele em campo. Sempre que precisava de alguém para ajudar ele me colocava para jogar. Foi um cara muito importante na minha carreira", elogiou, saudoso.
Durante seu período no Grêmio, o ex-atleta também sofreu com lesões no joelho, que acabaram abreviando sua carreira no futuro.
"Eu rompi os ligamentos duas vezes. Precisei operar e fiquei praticamente um ano e meio sem jogar. Foi um período bem sacrificante", relatou Grotto, que é muito grato à equipe de Porto Alegre pela confiança na época.
"O Grêmio renovou meu contrato enquanto eu estava no hospital. Eu era muito querido no clube, principalmente pelo Seu (Antônio Carlos) Verardi [lendário ex-dirigente gremista], que faleceu em 2019. Eu era cria da base e sempre fui um cara muito profissional", ressaltou.
Ex-jogador hoje trabalha como carteiro
Após ter passagem marcante também pelo Botafogo e por vários outros times do futebol brasileiro, como Bahia e CRB, além de Alianza Lima, do Peru, e clubes de Portugal, Grotto encerrou a carreira aos 30 anos, após duas operações no menisco, que renderam muitas dores e inchaços no joelho.
Com a vida inteira ainda pela frente, o ex-zagueiro começou a se dedicar a outras atividades fora do futebol, já que não tinha mais interesse em trabalhar no meio a bola.
"Eu já vinha montando uma estrutura para o pós-carreira. Saí do futebol e fiz um ano sabático, depois comecei a trabalhar na zona rural. Comprei uma propriedade e passei a mexer com vacas de leite. Queria dar prioridade à minha família. A decisão de parar foi bem pensada e planejada, e não olhei para trás", lembrou.
"Conheci minha esposa e ela foi chamada para um concurso na cidade de Santa Cruz do Sul. Eu não queria mais me envolver com futebol, para dar estabilidade à minha família e acompanhar o crescimento da minha filha, a Pietra. Aí resolvi botar ponto final na área rural e me mudei para cá com a minha esposa, começando tudo do zero", contou.
Depois disso, Grotto "rodou" por vários tipos de trabalho após se encontrar como carteiro, profissão que já exerce há seis anos com enorme felicidade - o ESPN.com.br tomou conhecimento da história após reportagem do jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul-RS.
"Fiz um pouco de tudo: trabalhei em consórcio, supermercado, gerente de setor de eletro-eletrônicos, empresas de produtos químicos na parte de compra e financeiro... Até que surgiu um concurso dos Correios e prestei. Passei em 1º lugar nos testes físicos! Atualmente, vai fazer seis anos que sou carteiro e entrego cartas a pé", exaltou.
O ex-zagueiro, aliás, não quer saber de mudar de área na empresa.
"Já tive até oportunidades de ir para outros setores, fazendo trabalho motorizado ou na parte administrativa. Mas não tem preço que pague a liberdade de estar todos os dias nas ruas caminhando e podendo interagir com as pessoas. Nunca quis mudar e fiquei como carteiro a pé mesmo. Estou muito feliz e satisfeito", relatou.
E como era de se esperar, é claro que, na agência em que Grotto trabalha, logo ele seria reconhecido por algum gremista fanático.
"Logo no primeiro dia que entrei nos Correios já fui reconhecido por um colega (risos). Só que pedi para não espalhar, porque nunca gostei de badalação (risos). Poucos me reconheciam, mas há algumas semanas, o jornal Gazeta pediu para fazer uma reportagem comigo e ficou muito legal. Agora, todo mundo me reconhece na rua, principalmente os gremistas mais antigos. Até então, eu estava bem quietinho, na minha", brincou.
Nos tempos de jogador, o ex-zagueiro tinha como principal preocupação a marcação em cima dos craques dos anos 90 no futebol brasileiro. Atualmente, seus "adversários" são bem diferentes: os cachorros bravos.
"Nos Correios, você tem contato diário com as pessoas e os cachorros, ainda mais em cidade menor. Não tem um carteiro que não tenha passado por um problema com um cachorro e que não tenha recebido uma mordida (risos)", gargalhou.
"Os cachorros são muito espertos! Você não sabe se eles estão rindo e abanando o rabo para você porque estão contentes ou se querem te morder (risos)", seguiu.
"Uma vez, um cachorro mordeu minha mão e eu nem vi de onde ele saiu, porque estava escondido embaixo de um carro. Quando fui pegar uma carta para colocar na caixinha, ele veio por trás, pulou e cravou os dentes na minha mão. Não consegui nem pensar em nada e, quando vi, ele já estava embaixo do carro de novo. Deve ter ficado rindo de mim (risos)", divertiu-se.
"Eu não sabia se ria pela esperteza do cachorro ou se chorava pela mordida (risos). Vou te falar uma coisa... Os cachorros são bem mais difíceis de marcar que os atacantes. E são bem mais traiçoeiros também. E olha que joguei contra vários grandes atacantes, como Romário, Luizão, Amoroso, Viola e tantos outros...", encerrou, aos risos.
Fonte: ESPN
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